Todos vivemos em gaiolas. Ele disse.
Sim.
Mas a pergunta é:
importa o tamanho da gaiola?
Pela primeira vez eu tinha uma boa resposta presa entre os dentes. Explodindo para sair. Mas, ninguém me perguntou oque eu pensava. Eu era então a ovelha do meu rebanho sendo tocada para dentro do cercado. Não são as ruas grandes filas de ovelhas correndo para a cerca correspondente ao seu pastor? Não estamos todos marcados com números, cortes de cabelo, profissões, escolhas? E seguir a bunda da frente é fácil. Difícil é ficar na periferia do rebanho. Cercando-o, tentando os restos. Mas esse não é um comportamento típico das ovelhas. O andar marginal dos desorientados, dos perdidos. Esgueirando-se nas sombras há um grupo quase tão grande quanto o das ovelhas. Esses não são ovelhas, mas lobos, de várias cores e pelagens. Ainda assim iguais às brancas ovelhas obedientes. Só estão sujos, com caras cansadas e as roupas amassadas de combater. O pastor não os nota, ou os ignora. Vejo a longa extensão de ovelhas, um rio longo e branco como uma nuvem, a fluidez do andar, os barulhos de quem anda atrás do outro e pede desculpa pelo tropesso, pede passagem para chegar antes. Mas esse rio se estreita logo à frente e lobos e ovelhas se misturam, e se comem. Um rio marrom e homogêneo de lobos, ovelhas e sangue. É o brotar de um novo rio, onde essas diferenças se deglutiram e liquefeitos eram um único veio de lama suja, pedaços de corpos e pura lã branca.
quarta-feira, 28 de março de 2007
Assinar:
Postagens (Atom)