para ele que nunca mais voltou.
Queria dar de quatro. Pra me sentir um pouco cadela. Depois, um pouco filhote enfiado debaixo do teu braço. Com as patinhas esticadas nesse lençol branco. Tão branco que a luz entra e se espalha por esses cantos vazios enchendo tudo de uma cor estourada, de diafragma rasgado. Tinha que te dizer isso. Mas minhas idéias se misturavam sóbrias e covardes. Não houve em minha cabeça um só pensamento pantanoso. Enquanto falo contigo só posso contar com a luz refletida desses cantos vazios para me clarear as idéias. Me cansou muito vir até aqui. O frio lá fora corroía minhas mãos enquanto eu segurava essa bebida barata. Quantos goles levaram para que eu pudesse finalmente me declarar essa puta chorona que tu vês? Até que esses cantos luminosos pudessem invadir-me pelas orelhas e poros nenhuma palavra ousou escalar as paredes da minha garganta e pular boca à fora. Achou depravada minha declaração? Tinha qualquer coisa de romântica nela essa manhã. Mas toda essa luz refletida sobre ela derreteu qualquer doçura que pudesse haver. Acho que escorreu um pouco entre meus dedos, porque enquanto eu passeio a mão na tua barriga teus pêlos se prendem como mosquinhas em teias de aranha. Tem um rubor de sangue quente me subindo às bochechas agora que te disse isso, agora que mostrei essa passividade mórbida, quase estática de tão preguiçosa. Faltou-me coragem para te dizer também que tenho medo de alturas e que sofro de uma solidão incurável. Agora me conheces melhor. Talvez inteiramente, restando apenas páginas negras que escondemos sob as pálpebras. Vez em quando um cisco ou um filme fazem elas sacudirem epiléticas e cuspirem um ou dois capítulos.
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